quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

AVATAR DE LUMIÈRE

Muita gente está me perguntando o que achei de Avatar. Eu respondo. Mas antes gostaria só relembrar algumas coisinhas.
Quando eu e meu irmão, Auguste, trabalhávamos na invenção do cinematógrafo, não tínhamos noção das possibilidades artísticas do mesmo. Nosso objetivo era apenas financeiro, tanto que batizamos o projeto de 1D, “D” de dinheiro, obviamente.
Nossos primeiros filmes, aqueles que todos consideram como o início da história do cinema, não tinham maiores pretensões narrativas. Eram simples tomadas do cotidiano francês, feitas apenas para mostrar a magia das imagens em movimento a um público ainda virgem de linguagem cinematográfica. Na época, eu até falei ao Auguste que poderíamos tentar voos maiores.
- Gui (assim que eu chama Auguste), e se a gente utilizasse essa geringonça que inventamos para contar uma história?
- Que tipo de história? Quis saber ele.
- Uma história muito simples. Triângulo amoroso. Um casal de noivos embarca na primeira classe de um grande navio. Ele, um homem rico e arrogante. Ela, uma jovem linda, infeliz e de ótimo coração. Embarca também no mesmo navio, só que na classe econômica, um jovem pobre e cheio de talentos artísticos, pessoa boa, sabe? Durante a viagem o amor impossível acontece. O jovem pobre conquista o coração da infeliz garota. Daí o navio bate num iceberg e vai a pique...
Gui me interrompeu com um maneio de cabeça dizendo que já tinha entendido. Depois comentou.
- É uma boa história. Se encontrarmos um música bem cafona para sublinhar os principais momentos, podemos vender milhares de ingressos. Ma sabe o quê, Louis? Isso vai custar uma fortuna e todo esse esforço de captação e investimento financeiro não serão necessários. Essas primeiras plateias não querem drama, querem tecnologia.
Ele tinha razão. Na primeira sessão com ingressos pagos da história do cinema, a plateia assistiu estarrecida às prosaicas cenas de operários saindo de uma fábrica em Lyon.

www.youtube.com/watch?v=t8h9fHVMLGA

Na mesma sessão, durante a projeção de outro filme curto que mostra um trem chegando a uma estação, muitos espectadores chegaram a cair da cadeira com medo de que a locomotiva os atropelasse.

www.youtube.com/watch?v=uv8EKgBrk3w

Contei tudo isso para dizer que gostei de Avatar. Trata-se de um filme muito inteligente. É uma versão 2010 de nossos primeiros filmes. Não quero dizer que Avatar não tenha história. Tem sim, mas é uma história conhecida, a plateia já sabe com bastante antecedência o que irá acontecer. E assim os seus sentidos ficam liberados para se entorpecer com todas as inovações técnicas apresentadas pela película. E, de quebra, o filme transmite uma mensagem ecológica que é muito bem absorvida pelo público. No final da sessão, em que assisti, o chão estava coberto de pipoca e as latas de lixo lotadas de copos enormes de refrigerante. É isso. Desistamos da terra. O negócio é preservar Pandora. Foi assim que entendi.

6 comentários:

  1. Faxineira do Arteplex15 de janeiro de 2010 às 11:34

    Se a tua mãe não tivesse criado dois desocupados, o chão do cinema estaria limpo.

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  2. Pena que o Robert Mckee ainda esteja vivo e não possa comentar.
    Adorei o Story. Valeu a dica, Vitor.
    Abs
    Michel

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  3. excelente! to aki cheio de lixo em volta do meu pc, salve pandora!

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  4. "musica cafona pra sublinhas os principais momentos"... tou morrendo de rir até agora!!!

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  5. Mensagem ecologica babaca que nao atinge ninguem, mas q satisfaz outro discurso da moda. Tudo voluvel para almas voluveis, nao muito diversas do lixo que se acumula no chao.
    tudo uma merda, incluindo teu texto!

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  6. GENIAL este blog. Continue! Excelente texto! Parabéns.

    abraço do
    Luiz.

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