Muita gente está me perguntando o que achei de Avatar. Eu respondo. Mas antes gostaria só relembrar algumas coisinhas.
Quando eu e meu irmão, Auguste, trabalhávamos na invenção do cinematógrafo, não tínhamos noção das possibilidades artísticas do mesmo. Nosso objetivo era apenas financeiro, tanto que batizamos o projeto de 1D, “D” de dinheiro, obviamente.
Nossos primeiros filmes, aqueles que todos consideram como o início da história do cinema, não tinham maiores pretensões narrativas. Eram simples tomadas do cotidiano francês, feitas apenas para mostrar a magia das imagens em movimento a um público ainda virgem de linguagem cinematográfica. Na época, eu até falei ao Auguste que poderíamos tentar voos maiores.
- Gui (assim que eu chama Auguste), e se a gente utilizasse essa geringonça que inventamos para contar uma história?
- Que tipo de história? Quis saber ele.
- Uma história muito simples. Triângulo amoroso. Um casal de noivos embarca na primeira classe de um grande navio. Ele, um homem rico e arrogante. Ela, uma jovem linda, infeliz e de ótimo coração. Embarca também no mesmo navio, só que na classe econômica, um jovem pobre e cheio de talentos artísticos, pessoa boa, sabe? Durante a viagem o amor impossível acontece. O jovem pobre conquista o coração da infeliz garota. Daí o navio bate num iceberg e vai a pique...
Gui me interrompeu com um maneio de cabeça dizendo que já tinha entendido. Depois comentou.
- É uma boa história. Se encontrarmos um música bem cafona para sublinhar os principais momentos, podemos vender milhares de ingressos. Ma sabe o quê, Louis? Isso vai custar uma fortuna e todo esse esforço de captação e investimento financeiro não serão necessários. Essas primeiras plateias não querem drama, querem tecnologia.
Ele tinha razão. Na primeira sessão com ingressos pagos da história do cinema, a plateia assistiu estarrecida às prosaicas cenas de operários saindo de uma fábrica em Lyon.
www.youtube.com/watch?v=t8h9fHVMLGA
Na mesma sessão, durante a projeção de outro filme curto que mostra um trem chegando a uma estação, muitos espectadores chegaram a cair da cadeira com medo de que a locomotiva os atropelasse.
www.youtube.com/watch?v=uv8EKgBrk3w
Contei tudo isso para dizer que gostei de Avatar. Trata-se de um filme muito inteligente. É uma versão 2010 de nossos primeiros filmes. Não quero dizer que Avatar não tenha história. Tem sim, mas é uma história conhecida, a plateia já sabe com bastante antecedência o que irá acontecer. E assim os seus sentidos ficam liberados para se entorpecer com todas as inovações técnicas apresentadas pela película. E, de quebra, o filme transmite uma mensagem ecológica que é muito bem absorvida pelo público. No final da sessão, em que assisti, o chão estava coberto de pipoca e as latas de lixo lotadas de copos enormes de refrigerante. É isso. Desistamos da terra. O negócio é preservar Pandora. Foi assim que entendi.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
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Se a tua mãe não tivesse criado dois desocupados, o chão do cinema estaria limpo.
ResponderExcluirPena que o Robert Mckee ainda esteja vivo e não possa comentar.
ResponderExcluirAdorei o Story. Valeu a dica, Vitor.
Abs
Michel
excelente! to aki cheio de lixo em volta do meu pc, salve pandora!
ResponderExcluir"musica cafona pra sublinhas os principais momentos"... tou morrendo de rir até agora!!!
ResponderExcluirMensagem ecologica babaca que nao atinge ninguem, mas q satisfaz outro discurso da moda. Tudo voluvel para almas voluveis, nao muito diversas do lixo que se acumula no chao.
ResponderExcluirtudo uma merda, incluindo teu texto!
GENIAL este blog. Continue! Excelente texto! Parabéns.
ResponderExcluirabraço do
Luiz.